Guias de Montanha: Qualificação e a Urgência de Regulamentação

Guias de Montanha: Qualificação e a Urgência de Regulamentação


A busca por experiências na natureza, como trilhas e escaladas, tem impulsionado o Turismo de Aventura no Brasil, proporcionando a todos a oportunidade de conhecer ambientes remotos e deslumbrantes. No entanto, esse aumento na procura tem sido acompanhado por uma preocupante presença de guias desqualificados, ressaltando a urgente necessidade de regulamentação e conscientização.

Em junho de 2023, um homem sofreu um acidente na descida do Dedo de Deus e quase veio a óbito. Segundo relatos, estava conduzindo pessoas comercialmente e não possuía habilitação para tal [1]. Em julho de 2023, uma mulher precisou ser resgatada pelos bombeiros após sofrer uma queda na Carrasqueira, na Pedra da Gávea, e tudo indica que estava sem guia [2]. Na última semana (novembro/2023), testemunhamos a morte de um guia atingido por um raio na Pedra da Gávea. Relatos de algumas pessoas e imagens mostraram que as condições climáticas não eram favoráveis para estar no local naquele momento [3].

Hoje (novembro/2023), chegou até mim por mensagem, um vídeo de um rapaz que precisou ser resgatado pelos bombeiros no Corcovado enquanto tentava rapelar para encontrar um drone perdido. O mesmo se autodenomina guia de montanha nas redes sociais. Vídeo este que serviu como ponto de partida inspirador para a elaboração deste artigo.

São inúmeros os relatos de acidentes ou quase acidentes envolvendo pessoas sem a companhia de um guia ou com guias desqualificados e inexperientes, destacando os riscos inerentes a essas atividades e a complexidade dos desafios enfrentados no setor.

É fundamental reconhecer que todos têm o direito de se tornar guias, de iniciar sua carreira nesse setor, mas isso vem com a responsabilidade de aumentar a segurança e reduzir os riscos para os clientes guiados, especialmente considerando o perigo intrínseco das atividades como trilhas e escaladas.

Neste contexto, a especialização, treinamento e qualificação tornam-se deveres inegociáveis para quem deseja guiar. A formação adequada não apenas aprimora as habilidades técnicas, mas também prepara os guias para lidar com situações adversas, minimizando os perigos associados às trilhas e escaladas.

Uma regulamentação efetiva no Brasil é vital para estabelecer padrões claros, assegurando que apenas profissionais devidamente qualificados possam oferecer serviços de guia. Essa necessidade vai além da realização do curso técnico para guia de turismo com especialização em atrativos naturais, que não proporciona uma capacitação adequada para guiar em ambientes naturais remotos e perigosos, como os mencionados anteriormente.

A formação de um guia de turismo de aventura, especializado em trilhas e escaladas, deve exigir cursos como primeiros socorros em áreas remotas, orientação e navegação em ambientes hostis, meteorologia, técnicas verticais e resgate, liderança e gestão de segurança. É imperativo que essa capacitação seja complementada por extensas horas de experiência prática vivenciada no ambiente que o guia se propõe a liderar. Essa combinação não apenas aprimora as habilidades técnicas, mas também transmite um conhecimento profundo, garantindo a segurança e a qualidade da experiência para os clientes.

É crucial ressaltar que o cliente também desempenha um papel fundamental na promoção da segurança. Ao contratar um guia, muitas vezes a decisão é influenciada pelo preço, pela popularidade nas redes sociais ou ainda pelas habilidades de fotografia e filmagem da atividade relacionada. Contratam sem qualquer avaliação mais aprofundada das qualificações, histórico e avaliações comerciais do profissional. A conscientização dos clientes sobre a importância de pesquisar e selecionar guias com base em competência e experiência contribuirá significativamente para a redução dos riscos.

A proposta de regulamentação não protege apenas os praticantes, mas também eleva o padrão do setor de turismo de aventura. Todos têm o direito de praticar suas atividades na natureza e sentir adrenalina, mas esse direito deve ser equilibrado com a responsabilidade de garantir a segurança.

Somente por meio da qualificação, regulamentação efetiva e escolhas acertadas dos clientes podemos assegurar experiências de aventura emocionantes e, acima de tudo, seguras.

Referências:

[1] https://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2023/06/11/montanhista-e-resgatado-de-helicoptero-apos-sofrer-queda-em-trilha-na-serra-dos-orgaos.ghtml
[2] https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/07/27/bombeiros-resgatam-mulher-que-caiu-de-trilha-na-pedra-da-gavea.ghtml
[3] https://www.otempo.com.br/brasil/guia-de-turismo-morre-atingido-por-um-raio-em-trilha-no-rio-de-janeiro-1.3277982

Maicon Rocha
Montanhista desde 2008
Condutor do Parque Nacional da Serra dos Órgãos desde 2015
Condutor do Parque Estadual dos Três Picos desde 2015
Guia de Turismo Cadastur Nacional desde 2020
Fundador da Agência Ser Aventureiro Trekking
Instagram: @guiamaiconrocha


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